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MUROS

Este projeto coloca-se na zona de exploração do corpo e das identidades muitas vezes fixadas noção de raça e de marca territorial. Num momento particularmente crítico no que respeita às questões migratórias, o corpo retoma uma nova importância de ser pensado numa valência transversal e sem fronteiras. A pesquisa irá focar-se nos “muros” enquanto formas visíveis e invisíveis, virtuais e materiais de modo a questionar as deslocações do familiar, da zona entre privado e público, do íntimo, do periférico, do efémero e do intempestivo na contemporaneidade. Migrantes, deslocados, refugiados, exilados constituem figuras em relação a um espaço sedentário onde são marcados os territórios de reconhecimento do mesmo e de rejeição do estranho.

Partindo de uma zona de conflito atual, este projeto reencontra as temáticas sobre as cartografias, as paisagens do humano, a Imagem, que têm caracterizado os meus trabalhos.

Muros. Muros de pedra e arame. Muros transparentes e de água. Muros psicológicos. Fantasmas e assombrações. Impedido de chegar ao outro, a outro lado. O outro que impede o outro. Trânsito infinito entre aqui e ali e nunca chegar. Corpo ferido, ferido por um tipo de vida, está isolado. Torna-se ele próprio obstáculo. Há uma espécie de imobilidade neste tráfego, trânsito, circulação alucinante. Este mundo material e imaterial que molda um corpo e o projeta numa condição limite, é o nosso ponto de partida.

A cartografia que os meus trabalhos traçam, é quase sempre uma cartografia da sobrevivência do gesto. Ele estende-se pelo espaço, insiste, fervilha e faz-se persistir. O corpo no seu movimento, na sua voz, lança-se em longas sequências de variação onde a repetição é o prolongamento de um estado e não a repetição de uma mesma situação. É neste estado do corpo que as imagens que hoje nos perseguem, são convocadas. O corpo cartografa trajetos de incerteza, dor e de alucinação.

Num dispositivo cénico que separa os corpos, o trabalho vai convocando imagens e zonas de conflito e de resistência. O som e a voz é o veículo que parece ser a única coisa que passa, que passa mensagens de amor, de ódio, de resiliência ou de desistência.

Né Barros