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WITH DROOPING WINGS

With Drooping Wings toma de empréstimo um verso do libreto da ópera Dido e Eneias, de Henry Purcell, e configura uma reinterpretação do mito. Esta reinterpretação consiste em duas partes: uma curta-metragem e o espectáculo propriamente dito. O filme, realizado por Filipe Martins, coloca-nos no limiar dos afectos através do encontro e desencontro de personagens em trânsito, transformando-se o próprio filme num objecto em trânsito na sua lógica de construção. O espectáculo tem por base a própria obra de Purcell, e os recursos sonoros-musicais de Carlos Guedes e cenográficos de Manuel Casimiro foram pensados de forma a intensificar uma dramaturgia do movimento e da cena. Sempre expostos, os bailarinos tanto se vão transformando em personagens como são espectadores do que em cena vai acontecendo; estão numa espécie de dentro-fora de cena, colocando a tragédia num plano objectivado. O trânsito, aqui, faz-se num território ausente. O trânsito é o próprio território. Dido e Eneias Duas figuras do imaginário mitológico transportadas para uma existência mundana. Ele é um recém-chegado sem origem, ela é uma entusiasta dos ingredientes imagéticos do real. Conhecem-se num novo mundo, metonímico, estreito, reduzido à dimensão destas personagens. Reféns de atractores arquétipos, elas cumprem uma vez mais os seus destinos.