ISABEL BARROS, VÍTOR RUA E FLÁVIO RODRIGUES UM ROUXINOL NA ORDEM ZERO (REMIX)
ISABEL BARROS, VÍTOR RUA E FLÁVIO RODRIGUES UM ROUXINOL NA ORDEM ZERO (REMIX)
6 MAIO 21H30 | GRANDE AUDITÓRIO DO TEATRO MUNICIPAL RIVOLI
“Um Rouxinol Na Ordem Zero”, Isabel Barros, Vítor Rua e Flávio Rodrigues, assume uma posição etnográfica e poética em relação ao termo ópera – recorre ao estereótipo da “ópera bufa”, com emprego trivializado de diálogos e solos fora do recitativo da ópera dita “séria”; insinua uma “ópera poética”, que, por seu turno, era uma comédia lírica entre o cantado e o falado; é reminiscente da “opereta”, uma forma ligeira e sentimental, visando o grande público e multiplicando os diálogos, peça fantasista, poética e dramática, assume mesmo uma noção desconstrutiva do teatro musical dando ênfase à parte instrumental, numa postura pós modernista.
A adjectivação de “poética-melodrama” é a tentativa mais apropriada, pois os artistas inscrevem alternâncias de solistas, duos ou trios, instrumentistas e cantores; onde a frase falada/sussurrada é de certa forma anunciada pela frase musical e instrumental.
Num sentido nada convencional, “Um Rouxinol Na Ordem Zero” desvia o sentido da doxa, combina morfemas variegados, retalha grafismos, ignora o bel canto, uma antropologia vocal, desenha um patchwork de notações inabituais, de carácter primacialmente acústico, embora inclua o sampler como instrumento duma “plunderfonia”.
O idioleto, ou seja, o discurso singular e privado dos artistas, é uma função esquizóide, impõe o seu selo a toda a sintomatologia, exibe um código, privado e independente, de um só locutor, emerge da significação catártica da experiência musical.
As personagens fazem parte dum imaginário esquizo, são representações e simbolizações sociomusicais enredadas num mundo satírico corrupto, bizarro, assombrado pela ironia, despidas, comprometidas na simplicidade do senso comum, presentes nos poemas de António Ramos Rosa.
O libreto é assim um palimpsesto baseado nos poemas de Ramos Rosa, sem qualquer intervenção. Surgem tal e qual eles são, só que encadeados numa narrativa imaginária criada pelos autores da ópera, Isabel Barros, Vítor Rua e Flávio Rodrigues.
Ilsa D´Orzac criou para esta representação uma escultura sui generis – um “Jardim Suspenso" que flutua misteriosamente sobre todo o proscénio como um objecto alienígena.
Composição, guitarra, electrónica Vítor Rua
Coreografia, Soprano e Dança Isabel Barros
Coreografia e Dança Flávio Rodrigues
Cenografia, vídeo e figurinos Ilsa D´Orzac
(Baseada em poemas de António Ramos Rosa)
© Bruna Amaral