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Em Terceira Idade, de José Maria Vieira Mendes, os atores, antes de começarem, já se reformaram. Gente com passado, que apresenta rugas onde não as vemos. O horizonte mais próximo é a morte, mas a melancolia é comédia e o desespero gargalhada. Nesta peça de teatro a trama serve de pretexto para adensar o “Quem sou eu?” ou ainda “O que é isto de uma terceira idade?” Ou também: “Será que digo que sou velho porque sou velho ou sou velho porque digo que sou velho?” Como serei daqui a 40 anos? E na especulação da resposta acrescenta-se matéria a um conceito por abrir. Terceira Idade é tempo e velhice, sabedoria e esquecimento, artroses e pilates. Mas também é hoje e foi ontem. É uma construção por fazer com palavras conhecidas. Uma inevitabilidade a preencher. Uma reinvenção dentro da invenção. Uma comunicação aos tropeções. É, finalmente, a possibilidade de dizer, com os corpos de agora e cabelo de futuro: Terceira idade é hoje e aqui.
I was told they want to dance … to dance, The dance. They will dance, the slow dance of violence, the dance of love and hate, the dance of the ungraspable pleasure, of na intense pain. Breath getting softer, taking and reaching, never stopping, relentlessly restless. A Transe out of Context. A Vision-like experience. Quando se torna claro que a arte deve estar consciente da vida e que a vida tem, por certo, o potencial para muita e horrífica violência, a pergunta pertinente é: onde cabe esta violência no espectro da arte? Como pode, esta força monolítica do nosso mundo ser representada em palco, e se sim, porquê? A que propósito? Que poder terá no palco? Como pode esta violência, representada em palco, impactuar as vidas de quem a interpreta e daqueles a quem é pedido que a assista?
A partir do texto original de Marta Freitas O mundo acaba amanhã. Está anunciado em toda a parte: ninguém irá escapar. Aconselham-se despedidas sinceras pensando que o retorno não irá existir. Diga adeus às pessoas, aos animais, às coisas, às situações. Despeça-se porque amanhã o mundo acaba. São vinte e quatro horas para por as despedidas em dia, um dia para dizer Adeus. A-D-E-U-S.
A partir de textos de Enda Walsh, Marta Freitas, Cláudia Lucas Chéu e Rui Pina Coelho Seis adolescentes falam numa sala de chat. Trivialidades. Até surgir o tema do suicídio. Joaquim, afundado num mar de problemas sociais e familiares, encontra naquele espaço virtual uma fonte de desabafo. A vontade de suicídio é revelada. Guilherme e Eva, desde o conforto da sua privacidade, impelem-no a concretizar o seu derradeiro plano. João, Emília e Laura, tentam tornar consciente o significado brutal desse caminho. No final, Joaquim é quem decide. Este texto não é uma chamada de atenção. Estes adolescentes existem, algures.
Texto de Frank Wedekind Tradução de João Barrento O TNSJ volta a constituir-se parceiro das escolas de teatro do Porto, acolhendo, no Mosteiro de São Bento da Vitória, mais um projeto dos alunos do Balleteatro. Na Sala do Tribunal ocorre uma “tragédia da adolescência”, o subtítulo dessa peça – a vários títulos, fundadora – que Frank Wedekind compôs no final do século XIX e que continua a dar-nos que fazer. Perda da inocência, recusa da autoridade de pais e professores, descoberta da sexualidade, conflito entre pulsão e norma social – tópicos que se enredam em O Despertar da Primavera que Nuno M Cardoso agora revisita, encenando-o como um ginásio (em alemão, “escola secundária” é Gymnasium), isto é, espaço de disciplina, regra, pulsão e disputa, que nos reporta ainda à Antiga Grécia, onde era lugar de treino para os jogos públicos e espaço de socialização. Neste ginásio onde jovens alunos se ensaiam como atores, diferentes personagens praticam diferentes modalidades desportivas – do golfe ao salto à vara, passando pelo ténis ou o futebol -, como que nos lembrando o estilhaçamento da vida em inúmeras experiências e destinos.
“Eis-me aqui com os pés sobre o mundo, e os olhos para o céu. Vou em frente, vou ao rumo daquele que é meu único lugar. Descanso. Morada. Com passos largos vou nesta estrada não me canso, não baixo a guarda, guardada. Num tempo suspenso, suspenso somente viver numa aventura humana. Eu não sou apenas o que você vê.” “A passos largos-em caminhos estreitos” é uma proposta cênica em dança, que utiliza a dança contemporânea para narrar interessantes histórias vividas por um casal viajante. Nesta jornada os personagens se dedicam a conhecer diferentes países e estabelecem diálogo entre as mais diversas culturas e suas possíveis relações com a dança. Entende-se o corpo como principal produtor de texto, propondo a investigação de uma dança carregada de fusões (dança contemporânea, capoeira, danças folclóricas do Brasil …) “A passos largos – em caminhos estreitos” resgata e reapresenta fragmentos de culturas que não são diretamente contadas, mas que podem ser vistas, vividas e estão lá, ainda vivas. Para estabelecer um novo olhar, é preciso resistir, dar novos significados e reinventar.